segunda-feira, 13 de abril de 2009

Aviso aos navegantes: Governo anuncia projeto da ponte Salvador-Itaparica


Por Iure Cardoso

Dá-se o tom, afinam-se os instrumentos. Canetas empunhadas, jornalistas a postos... Vai começar a Orquestra do Silêncio. Após invertebradas mudanças no Plano de Diretor de Desenvolvimento Urbano (PDDU), votado quase em unanimidade pela Câmara dos Vereadores, o Governo da Bahia anunciou, no último dia 24 de março, a nova Hidra de Lerna: a construção da ponte que ligará Salvador à Ilha de Itaparica. Mas o pouco que se fala na mídia gorda não satisfaz a minha libido aurícula. Juro que não quero ser reacionário, apenas acredito que o ciclo vicioso de um
Fordismo desenfreado instalado nas redações, que mais se assemelham a quartéis regidos pela doutrina do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”, só gera notícias vazias.
Orçada em R$ 1,5 bilhão e incluída no pacote da Copa de 2014, a obra foi apresentada ao presidente Lula durante a primeira Mostra Nacional de Desenvolvimento Regional, realizada no final de março, no Centro de Convenções da Bahia. Em seu programa Conversa com o Governador, Jaques Wagner adiantou o seu adágio político: “o equipamento poderá ser um novo vetor de expansão da capital e pode aproximar Salvador do sul do Estado e do sul do País, facilitando o tráfego de mercadorias e de pessoas também para uma região que tem muito turismo”.
Já no Diário Oficial, saiu o edital de concorrência pública para a construção do empreendimento. De acordo com a publicação, a empresa contratada poderá cobrar pedágio de valor não superior a 50% do valor da passagem para veículos no defasado Sistema Ferry Boat, de acordo com a categoria do transporte. O edital prevê ainda que a ponte chegará até o continente com entradas e saídas para a ilha de Itaparica, sem colocar em risco a biodiversidade marítima local. Não queria pagar para vê, mas não vejo alternativas.
Conseqüências – A Baía de Todos os Santos possui um largo histórico de degradação ambiental, e desde o século XVI vem sofrendo alterações por parte dos estrangeiros que ocuparam as terras soteropolitanas. Este processo de deterioração cresce a cada ano e, atualmente, a política de desenvolvimento de Salvador baseia suas ações numa tendência Vintage de revalorização do passado, e o mal perpetua. Ainda assim, o ambiente marinho da Baía de Todos os Santos apresenta grande riqueza biológica devido aos aspectos geomorfológicos que lhe proporciona uma grande extensão de costões rochosos, abrigando diversas espécies de peixes, crustáceos, moluscos, mamíferos marinhos e aves oceânicas residentes e migrantes.
Os impactos ambientais para construção de uma ponte com cerca de 14km de extensão podem trazer consideráveis prejuízos. O processo de implantação exige esforços maquinários e pode se tornar uma barreira para espécies migrantes (algumas já ameaçadas) e diminuir a abundância de corais e pequenos invertebrados, o que conseqüentemente afetará espécies de maior porte, interferindo na teia alimentar e no ciclo de energia do ambiente. Outro choque comum no universo marinho são as águas de lastro, oriundas das embarcações que vêm de locais distantes, deságuam próximo à costa e introduzem uma fauna exótica, impactante às espécies nativas.
A idéia é ambiciosa e o poder é pós-moderno: o agora é mais importante que o depois.

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